sábado, 23 de julho de 2011

Devaneios - parte III

No sábado, assim que eu terminei de almoçar me dirigi à praça, ele não estava naquele primeiro local onde eu havia o visto e nem sentado ao lado do meu balanço. Fiquei ouvindo música e pensando no quão tolo eu estava sendo, eu havia ficado triste por ele não estar lá naquele momento. Fechei os olhos e viajei em meus pensamentos, como estava acostumado a fazer naquele local. Após o que havia me parecido um longo período de tempo eu ouço o barulho do balanço ao meu lado, abri os olhos e olhei para o lado, e lá estava ele novamente, olhando fixamente para mim, com aqueles olhos verdes encantadores. 

Assim que eu olhei dentro daqueles olhos, me pareceu que tudo havia perdido a graça ao meu redor, tudo o que importava eram aqueles olhos, tudo o que eles transmitiam. Meu coração havia acelerado de uma hora para outra, minha respiração estava ofegante, e eu sentira que estava tremendo um pouco. Desviara o meu olhar do dele, para tentar esconder o que havia acontecido comigo, e começara a reparar nele por completo. Naquele sábado não estava tão frio quanto os outros dias, ele estava usando uma camisa básica de mangas compridas, só que desta vez preta, um jeans um pouco apertado, um Vans e no pescoço usava um cachecol branco, o cabelo novamente bagunçado. Presumi que ele gostava do estilo arrumadinho, mas desleixado. 

Não me segurei e o cumprimentei sorrindo, como se eu fosse um retardado, ele sorriu e me cumprimentou de volta, nos balançamos um pouco e ele começou a puxar papo. Eu, que não sabia o que estava fazendo, apenas ia respondendo as perguntas e conforme a conversa ia perdurando, eu ia começando a questioná-lo também. Descobri que ele havia se mudado para a vizinhança poucos dias antes da primeira vez que nos encontramos, a casa dele era bem perto da minha, descobri também que ele era da minha idade e que nosso gosto musical era praticamente o mesmo. Durante aquela tarde eu não pensava sobre o que era certo ou errado, no que as pessoas falariam de mim e no que realmente estava acontecendo comigo, eu havia apenas deixado a conversa fluir. 

Conforme a conversa fluía, nós nos conhecíamos melhor e o tempo corria, quando nos demos conta do horário já estava na hora do jantar, e nós dois devíamos ir para casa. Nossa casa era realmente muito próxima, algumas poucas ruas de distância, de modo que quase todo o caminho nós seguimos juntos, continuamos a conversa, falávamos sobre tudo, sobre futebol, vídeo games, escola, amigos, foi uma conversa típica de garotos, descontraída.

A minha casa era a mais próxima da praça, assim que chegamos à esquina da minha rua ele me apontou uma esquina a duas ruas de distância e me disse que a casa dele ficava naquela rua e que era para eu ir até lá a qualquer hora, eu disse que talvez eu aparecesse e ele sorriu para mim, como se estivesse satisfeito com a resposta. Estava na hora de nos despedirmos e nós apertamos as mãos, por um instante me ocorreu que tanto eu quanto ele não queríamos largar da mão um do outro, mas aquela sensação passou e seguimos cada um para a sua casa.

domingo, 3 de julho de 2011

Devaneios - parte II

As aulas haviam finalmente chegado ao seu fim e eu tinha três semanas de férias pela frente, o inverno havia chegado e já estava fazendo um friozinho gostoso e aconchegante. Eu estava com saudade de passar minhas tardes me balançando naquela pracinha, estava precisando relaxar e lá era o melhor local para isso. Com tantas coisas acontecendo na escola eu havia me esquecido completamente daquele garoto, mas ao voltar para a pracinha dou de cara com ele. Ele estava sentado no balanço ao lado do meu, e agia como se estivesse esperando por alguém, não compreendi exatamente por quem ele estava esperando. 

Fui em direção ao balanço e educadamente pedi licença e me sentei no banco que era meu, achei aquela situação um pouco estranha, eu estava pedindo licença a um estranho para poder me sentar no balanço que pertencia a mim, apenas por ele estar sentado ali ao lado. Ele vestia aquele mesmo Nike clássico, uma calça jeans um pouco apertada e um suéter cinza escuro com alguns detalhes em azul marinho, vestia também um cachecol azul marinho, como que para combinar com o suéter, e havia cortado o cabelo, estava mais curto e repicado, ele havia deixado o cabelo um pouco bagunçado, transmitindo um ar desleixado, contrariando a roupa que estava combinando. Surpreendi-me com o fato de eu estar prestando atenção naquele garoto que eu mal conhecia e ainda mais por perceber que ele havia cortado o cabelo.


Por um longo tempo ficamos apenas nos balançando, cada um no seu ritmo e com seus próprios pensamentos. Eu estava procurando um motivo que explicasse o fato de eu estar me sentindo envergonhado e tímido ao lado daquele garoto, quando ele olha para mim e me cumprimenta como se nós acabássemos de nos encontrar. Ele se apresentou como Gustavo e sorriu para mim, não sei descrever o que estava se passando na minha mente naquele momento, mas eu simplesmente sorri e disse-lhe meu nome também, nossos olhares se cruzaram e nós os desviamos envergonhados. Eu não sabia o que estava se passando comigo, aquilo nunca havia acontecido comigo, ainda mais com um garoto, eu não sabia o que fazer, baixei a cabeça, disse que tinha que ir para casa e sai correndo. 

Passei o resto do dia no meu quarto pensando no que estava acontecendo, no que eu estava fazendo, isso era certo? Sentir-me assim por causa de um garoto? O que os meus amigos pensariam de mim? O que eles falariam de mim? E meus pais? Eles ficariam chateados comigo? Ficariam zangados comigo? Expulsariam-me de casa? Todas essas dúvidas passaram pela minha cabeça e quando eu finalmente caí no sono tive alguns pesadelos.

Tentei me distrair nos dias que se passaram, mas por mais que eu tentasse a imagem daquele garoto sempre vinha a minha mente, não sabia mais o que fazer para tentar parar com isso, afinal eu nem sabia o que estava sentindo, muito menos se era correto. No final de semana eu não aguentava mais aquela situação, tinha que decidir o que iria fazer, e decidi por voltar à pracinha.