No sábado, assim que eu terminei de almoçar me dirigi à praça, ele não estava naquele primeiro local onde eu havia o visto e nem sentado ao lado do meu balanço. Fiquei ouvindo música e pensando no quão tolo eu estava sendo, eu havia ficado triste por ele não estar lá naquele momento. Fechei os olhos e viajei em meus pensamentos, como estava acostumado a fazer naquele local. Após o que havia me parecido um longo período de tempo eu ouço o barulho do balanço ao meu lado, abri os olhos e olhei para o lado, e lá estava ele novamente, olhando fixamente para mim, com aqueles olhos verdes encantadores.
Assim que eu olhei dentro daqueles olhos, me pareceu que tudo havia perdido a graça ao meu redor, tudo o que importava eram aqueles olhos, tudo o que eles transmitiam. Meu coração havia acelerado de uma hora para outra, minha respiração estava ofegante, e eu sentira que estava tremendo um pouco. Desviara o meu olhar do dele, para tentar esconder o que havia acontecido comigo, e começara a reparar nele por completo. Naquele sábado não estava tão frio quanto os outros dias, ele estava usando uma camisa básica de mangas compridas, só que desta vez preta, um jeans um pouco apertado, um Vans e no pescoço usava um cachecol branco, o cabelo novamente bagunçado. Presumi que ele gostava do estilo arrumadinho, mas desleixado.
Não me segurei e o cumprimentei sorrindo, como se eu fosse um retardado, ele sorriu e me cumprimentou de volta, nos balançamos um pouco e ele começou a puxar papo. Eu, que não sabia o que estava fazendo, apenas ia respondendo as perguntas e conforme a conversa ia perdurando, eu ia começando a questioná-lo também. Descobri que ele havia se mudado para a vizinhança poucos dias antes da primeira vez que nos encontramos, a casa dele era bem perto da minha, descobri também que ele era da minha idade e que nosso gosto musical era praticamente o mesmo. Durante aquela tarde eu não pensava sobre o que era certo ou errado, no que as pessoas falariam de mim e no que realmente estava acontecendo comigo, eu havia apenas deixado a conversa fluir.
Conforme a conversa fluía, nós nos conhecíamos melhor e o tempo corria, quando nos demos conta do horário já estava na hora do jantar, e nós dois devíamos ir para casa. Nossa casa era realmente muito próxima, algumas poucas ruas de distância, de modo que quase todo o caminho nós seguimos juntos, continuamos a conversa, falávamos sobre tudo, sobre futebol, vídeo games, escola, amigos, foi uma conversa típica de garotos, descontraída.
A minha casa era a mais próxima da praça, assim que chegamos à esquina da minha rua ele me apontou uma esquina a duas ruas de distância e me disse que a casa dele ficava naquela rua e que era para eu ir até lá a qualquer hora, eu disse que talvez eu aparecesse e ele sorriu para mim, como se estivesse satisfeito com a resposta. Estava na hora de nos despedirmos e nós apertamos as mãos, por um instante me ocorreu que tanto eu quanto ele não queríamos largar da mão um do outro, mas aquela sensação passou e seguimos cada um para a sua casa.