Parte III – Alex Turner
Capitulo VII: Monstro
Eram dez deles, eu estava cercado; mas depois de tanto tempo sobre esta nova "Terra", essa situação já não me aterrorizava. Para ser mais preciso, três meses haviam se passado desde que eu acordara naquele beco sujo; nesse meio tempo, eu já viajara quase todo o país em busca de respostas, mas eu fora mal sucedido. Nesses três meses, uma mutação se abatera sobre mim. Eu mesmo já não me reconhecia.
Meu sangue começava a ferver, meus instintos se aguçavam e o tempo parecia rastejar, como se eu estivesse vivenciando o momento em câmera lenta. Analisei os dez que me cercavam, nenhum deles ali possuía o poder ou a capacidade para me superar, mas algo me chamou a atenção naqueles seres horrendos: eles aparentavam ter controle sobre si e de terem recuperado um pouco de suas consciências. Esse fato me surpreendera, pois este era o primeiro grupo de monstros que eu encontrava que aparentavam possuir qualquer tipo de capacidade mental; todos os outros não passavam de animais esfomeados que seriam capazes de lutar até a morte por um pouco de carne.
Eu desejava poder analisá-los melhor, portanto decidi não utilizar de meus poderes para que a batalha durasse um pouco mais. Minha mente estava em um confronto voraz com o meu instinto assassino: minha mente queria analisar e estudar o que havia feito aqueles monstros recobrarem a consciência, já meu instinto queria simplesmente trucidá-los. Eu ainda não tinha controle sobre meu instinto e nem sobre meus poderes, eles ainda eram um completo mistério para mim e tudo aquilo ainda me assustava.
Eu estava usando todas as minhas forças para combater meu instinto assassino, meu sangue fervilhava. Me preparei para o combate e esperei para que eu pudesse analisar como eles procederiam. O primeiro deles correu em minha direção, rugindo e mostrando os dentes afiados e suas garras mortais; um sorriso brotou em minha face, quem aquele ser pensava que era para me atacar de frente?
À medida que ele se aproximava de mim, sua aura assassina aumentava, o que me deixou surpreso: será que eles poderiam esconder suas intenções assassinas, assim como eu estava fazendo naquele exato momento? Ele estendeu suas garras querendo dilacerar meu peito, desviei de seu ataque simplesmente dando um passe para o lado, virei e segurei sua cabeça entre as minhas mãos, torcendo seu pescoço como se não fosse nada. Aos meus olhos esses movimentos duraram um minuto inteiro, mas na verdade tudo se passou dentro de poucos segundos.
Os nove restantes, parecendo irados pela facilidade com que eu matara um de seus companheiros, liberaram suas intenções assassinas por completo; a intenção assassina deles junta era de certo modo surpreendente, eu nunca havia encontrado uma intenção assassina tão grande antes. Meu instinto assassino reagiu à intenção assassina deles e sobrepujou minha mente. Em resposta aos urros proeminentes daqueles animais eu rugi de modo imponente, calando-os por alguns momentos; minha visão tornara-se vermelha e todos os meus sentidos explodiram, chegando a uma escala inumana. Com uma incrível velocidade, saquei as duas espadas que estavam embainhadas em minhas costas. Os nove restantes me atacaram ao mesmo tempo, mas para mim seus movimentos eram completamente visíveis e previsíveis; soltei uma gargalhada: novamente minhas espadas provariam o gosto de sangue. Naquele instante eu notara que não era eu que estava no comando do meu corpo, e tudo escurecera...
Despertei aos poucos com dores por todo o meu corpo, meus sentidos foram aos poucos retornando ao normal; eu estava em pé, no meio de uma estrada com vários corpos ao meu redor; eu estava coberto de sangue dos pés à cabeça e sangue também pingava das espadas. Finalmente eu entendi o que havia se passado ali, depois de vários dias sem crises, eu havia perdido o controle sobre o meu corpo e meu instinto assassino tomara conta de mim, liberando-o.
Meu pulmão gritava, implorando por nicotina; eu precisava de cigarros e quem sabe uma boa dose de álcool também. Olhei ao redor e encontrei minha Midnight Star, enquanto eu me encaminhava para ela, imagens de dezenas de cenas semelhantes aquela que eu acabara de presenciar passavam pela minha cabeça; quantos monstros daquele eu já havia matado? Quantas vezes eu já havia perdido o controle sobre mim mesmo? Enquanto eu pensava sobre essas perguntas, outra brotou em minha mente: havia eu me tornado nada mais que um monstro também?