domingo, 3 de julho de 2011

Devaneios - parte II

As aulas haviam finalmente chegado ao seu fim e eu tinha três semanas de férias pela frente, o inverno havia chegado e já estava fazendo um friozinho gostoso e aconchegante. Eu estava com saudade de passar minhas tardes me balançando naquela pracinha, estava precisando relaxar e lá era o melhor local para isso. Com tantas coisas acontecendo na escola eu havia me esquecido completamente daquele garoto, mas ao voltar para a pracinha dou de cara com ele. Ele estava sentado no balanço ao lado do meu, e agia como se estivesse esperando por alguém, não compreendi exatamente por quem ele estava esperando. 

Fui em direção ao balanço e educadamente pedi licença e me sentei no banco que era meu, achei aquela situação um pouco estranha, eu estava pedindo licença a um estranho para poder me sentar no balanço que pertencia a mim, apenas por ele estar sentado ali ao lado. Ele vestia aquele mesmo Nike clássico, uma calça jeans um pouco apertada e um suéter cinza escuro com alguns detalhes em azul marinho, vestia também um cachecol azul marinho, como que para combinar com o suéter, e havia cortado o cabelo, estava mais curto e repicado, ele havia deixado o cabelo um pouco bagunçado, transmitindo um ar desleixado, contrariando a roupa que estava combinando. Surpreendi-me com o fato de eu estar prestando atenção naquele garoto que eu mal conhecia e ainda mais por perceber que ele havia cortado o cabelo.


Por um longo tempo ficamos apenas nos balançando, cada um no seu ritmo e com seus próprios pensamentos. Eu estava procurando um motivo que explicasse o fato de eu estar me sentindo envergonhado e tímido ao lado daquele garoto, quando ele olha para mim e me cumprimenta como se nós acabássemos de nos encontrar. Ele se apresentou como Gustavo e sorriu para mim, não sei descrever o que estava se passando na minha mente naquele momento, mas eu simplesmente sorri e disse-lhe meu nome também, nossos olhares se cruzaram e nós os desviamos envergonhados. Eu não sabia o que estava se passando comigo, aquilo nunca havia acontecido comigo, ainda mais com um garoto, eu não sabia o que fazer, baixei a cabeça, disse que tinha que ir para casa e sai correndo. 

Passei o resto do dia no meu quarto pensando no que estava acontecendo, no que eu estava fazendo, isso era certo? Sentir-me assim por causa de um garoto? O que os meus amigos pensariam de mim? O que eles falariam de mim? E meus pais? Eles ficariam chateados comigo? Ficariam zangados comigo? Expulsariam-me de casa? Todas essas dúvidas passaram pela minha cabeça e quando eu finalmente caí no sono tive alguns pesadelos.

Tentei me distrair nos dias que se passaram, mas por mais que eu tentasse a imagem daquele garoto sempre vinha a minha mente, não sabia mais o que fazer para tentar parar com isso, afinal eu nem sabia o que estava sentindo, muito menos se era correto. No final de semana eu não aguentava mais aquela situação, tinha que decidir o que iria fazer, e decidi por voltar à pracinha.

Um comentário:

  1. Fábio, legal seu conto. Muito boa a descrição, o jogo com as sensações e a criação deste espaço de angústia, curiosidade, medo, vontade, enfim, dúvida! Isso é muito bom na escrita, conseguir criar esta sensação no leitor melhor ainda. Textos que questionam são muito interessantes!

    E em relação ao que você escreveu no início ("Espero que vocês gostem da narrativa e que comentem sobre ela, mas cabe a vocês descobrirem se é uma história verídica, ou se é apenas mais um devaneio da minha mente, mas lembrem-se que para criar algo precisamos de fatos para nos basear, boa leitura."), eu acredito que toda história é verídica. O que diferencia a realidade da ficção? Será que nossa vida toda não é apenas uma grande história com curvas, retas, retornos e atalhos? E o quanto podemos dizer que a ficção não é, também, realidade? Acredito na potência que a escrita cria, seja ela o que for. Enquanto eu estava lendo seu conto, ele era real para mim, pude estar nele e isso é o que importa! Muito legal assumir os riscos de uma escrita que mexe em tema tão delicado, continue! =)

    Abraço

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